quarta-feira, 10 de abril de 2013

MUITA INDIGNAÇÃO. COMO PROFESSORES SÃO DESRESPEITADOS!




Agradecimentos

Findo o último ato deste enredo “medonho” lançado pelos poderes constituídos sobre os educadores e avidamente encenados por insensíveis gestões, resta-nos um ato de agradecimento... Sim agradecer pelo aprendizado colhido nesta fatigante seara na qual se converteu nossas vidas no decorrer destas semanas. Digo seara na tentativa de “suavizar” o verdadeiro “calvário” emocional pelo qual tivemos que singrar, eu e mais alguns colegas professores... Já passou, é passado e tudo passa, só não passa o bem semeado, colhido em frutos... Felizmente...
Quero agradecer, sem medo de ser piegas ou de cair no lugar comum, a Deus, porque Ele me capacitou e vem me capacitando com saúde, inteligência, discernimento e dignidade, algumas virtudes que tento traduzir na minha prática docente e que, per si, já são suficientes para que eu assuma com Ele, meu pai onipotente, uma dívida impagável... Além disso, generoso que é, Deus também me presenteou com oportunidades de conseguir tudo que sou e tenho com o suor do meu trabalho, pelos meus méritos e teimosos esforços.  Graças a uma  educação rígida e amorosa, cujo lema era e é fazer o certo e não precisar de nada que não me pertença de fato e de direito, desde cedo percebi que sou possuidora de bens cujo valor mostra-se incalculável: a tranquilidade e a paz de espírito.
Devo, neste segundo instante, isenta de qualquer favoritismo político ou de possível  ordenação ideológico-partidária,  agradecer ao gestor do Município de Gado Bravo, no ano de 2003, o Sr. Fernando Morais, por ter ele oportunizado meu ingresso naquele município, através de certame, para o cargo de professora do tão querido Ensino Médio na EMEFM Pe. Godofredo Joosten. Agradeço muito a sensibilidade e o compromisso daquele homem “público”, no sentido absoluto da palavra, porque através de sua disposição consciente, juntamente com sua equipe, possibilitou a realização daquele concurso tão disputado na época, abrindo vagas para a educação básica em nível fundamental e médio. Naquele tempo, ser professor de Gado Bravo era sinal de status e garantia de reconhecimento profissional o que me encheu de orgulho e responsabilidade, pois ingressara no meu primeiro emprego.
 Dono de uma imensa simplicidade, desprovido e “desarmado”, aquele gestor protagonizou grandes lições de democracia, de respeito e de completo interesse pela educação, nunca hesitando em dialogar com os professores olho no olho, frente a frente, sem intermediários ou esquivas acovardadas.  Parece que ali se orquestrava a continuação de um pacto entre aliados: “gestão executiva e corpo docente”, já iniciado na administração local durante o governo do seu antecessor, o aroeirense-gadobravense Salomão Lucena. Ao lado daqueles simples homem do campo, de sorriso fácil e firmeza de caráter, nós, os professores não nos sentíamos adversários, sentíamo-nos acolhidos, cuidados e como isso era bom.
Permitam-me um parêntese para lembrar que, mesmo em condições alarmantes no que toca à infraestrutura, mesmo lecionando em salas inapropriadas e pontuadas pelas ruas da cidade, com uma equipe ínfima, sem muito planejamento, exigências ou quebra-cabeças, nossos resultados em termos de qualidade e motivação para o trabalho faziam toda a diferença... Era emocionante, para mim, nos meus arroubos de jovem professora, há dez anos, verificar o entusiasmo dos alunos, a vontade de trabalhar contagiante numa equipe muito valorizada e confiante no papel que exerciam, basta ver a quantidade de jovens de Gado Bravo hoje cursando as melhores universidades da redondeza (Não citarei nomes, para não parecer injusta).
Muito obrigada a você, Sr. Fernando Morais que cumpria com suas obrigações e ainda  assumia  o  Ensino Médio (de responsabilidade do Estado), da rede municipal, além de viabilizar a matrícula e permanência de estudantes de outras localidades que viam naquela escola, fisicamente tão precária, um portal para um futuro promissor. De certa forma, quando assumia para si um nível de escolaridade que não lhe competia, no nível do direito e do amparo legal, recebia o ônus de despesas não reembolsadas pelo Governo Federal, mas compartilhava o bônus de atender aos anseios de uma comunidade que apostara na sua sincera liderança. Em sua conduta política, o que transparecia era a máxima: “ quando uma lei é injusta, o mais sábio e desobedecê-la.”  Assim,  a contribuição e a coragem de gestor público, muitas vezes esquecida ou até desmerecida pelos órgãos fiscalizadores, resplandeceu e afetou à formação de cada aluno, hoje profissional, além de calar fundo, como uma lembrança boa na memória de professores que, como eu, tiveram a felicidade de conhecer e viver uma política educacional pública, incontestavelmente, exitosa.
Depois, é muito importante agradecer aos meus eternos alunos de Gado Bravo, meus grandes amigos... Vocês nem desconfiavam que naquela relação de sala de aula, quem mais aprendia era eu... Aprendia a lição da alegria, da esperança, da sinceridade, do apoio... Em cada um com quem, às vezes, encontro já na Universidade, ou em outros rumos não menos valorosos, vejo seres humanos exemplares, homens e mulheres de bem, “bravos” guerreiros, porque até hoje me desafia pensar na lógica do ensino-aprendizagem que ali vivenciei. Não sei como vocês aprendiam em meio a tantas dificuldades, não sei que “mágica” era aquela... Desde sempre, amo vocês, e nunca conseguirei deixar de ser professora, mesmo sendo esmagada por leis injustas e desestimuladoras à docência. Minha sincera gratidão a todos os meus alunos dos anos de 2003, quando ingressei nas turmas de primeiro ano, e nos anos seguintes 2004,2005,2006,2007,2008... Quando já exigiam minha presença nas salas de aula  do terceiro ano, preparatório do temido vestibular e aos meus colaboradores na limpeza e reestruturação do Ensino Médio, já em 2009, quando aceitei o desafio de coordenar as ações naquele prédio, sem portas e nem janelas... Agradeço aos parceiros que comigo lavavam, organizavam, pintavam e cuidavam do espaço, mesmo nos finais de semana. Cansaço e desânimo eram vocábulos inexistentes em nosso vocabulário e conjugar o verbo desistir era proibido.  O que tive a felicidade de experimentar foi o apoio irrestrito de alunos dispostos a melhorarem seu ambiente, alunos que passavam as últimas aulas etiquetando carteiras, junto aos professores, para realização dos proveitosos simulados bimestrais... Não imaginam o orgulho que eu tinha quando viam meus 400 “anjinhos” compenetrados resolvendo questões, entendo o poder daquele momento como ferramenta preparatória de emancipação, esperando resultados, conferindo gabaritos! Ali pude realizar grandes sonhos e ter a firme convicção do quanto a educação é poderosa, o quanto ela é indispensável, mesmo que dispendiosa de recursos, tempo e perseverança. Muito obrigada!
Faz-se necessário ainda agradecer aos colegas de tantas jornadas compartilhadas lá em Gado Bravo... Nossas viagens e pequenos perigos quando, com o coração gelado, subíamos a ladeira da Boa Vista ou temíamos as “cheias” na ponte Itália, foram sempre pitorescas.  A sopa deliciosa de Dona Estela, a eficiência silenciosa de Maria, o labor prestativo de Clemilton, Sr. Valentin e Mazinho, a competência de Gorete, o companheirismo de Joaldo... Atitudes inesquecíveis para mim.  Agradecer a todos os professores e auxiliares, mais em especial aos meus grandes colegas do Ensino Médio, os “excluídos” dos “excluídos”, sempre firmes e fortes: Márcia, Lúcio, Luciana, Paty, Tio Armando, Socorro Alves, Marcílio, Vicente, Adelino e a grande Socorro Messias, ícone de coragem e autenticidade.
É justo também citar a lição da solidariedade expressa na conduta do então Secretário de Administração Municipal: Sr. Antônio de Pádua Benício, amigo de ontem, de hoje e de sempre... Uma gota de boa-vontade deslocada num oceano de resistência. Também lembrar a doçura de Socorro Barbosa, antiga diretora do Ensino Médio, de Da Paz com sua alegria, de Maninho como seu desejo de mudança, da inesquecível Secretária de Educação Josilane Monteiro(Branca) com sua diplomacia, educação e fino trato, professora como nós...
Mas quando a estrada se bifurca e precisamos singrar veredas inesperadas, também é bom agradecer o aprendizado tingido pela cor do sofrimento, as lições nascentes em noites de vigília e desassossego, quando a frustração ameaça dominar toda nossa força e senta ao nosso lado exigindo nossa completa atenção. Nessas horas, as palavras de amigos como Elk, Marina, Tiago e Janilton...  , com quem dividi desabafos e estupefação, mediante nossa inconformada impotência, serviam de alívio temporário e pecha de esperança.
Por fim, em breves palavras, também preciso mencionar alguns aprendizados amargamente digeridos. Para estes, porém, dediquei apenas o mínimo de espaço desse texto, posto que comungue da ideia de que o mal, não é merecedor de tantos comentários.
A primeira e incontestável lição: que a infraestrutura ou a quantidade de profissionais não se constituem em fatores decisivos para garantir o sucesso do ensino-aprendizagem. Basta percebemos que, apesar de inegáveis avanços nesses itens, os índices alcançados nas avaliações nacionais, o catastrófico e midiático desempenho no ENEM, além de resultados inexpressivos em vestibulares e concursos ratificam que algo em nossa escola se perdeu, que algo anda errado com a educação em Gado Bravo, que algo se fragmentou...
A segunda e decepcionante lição: que a dignidade de um profissional não deve ser comercializada a custa de parcos tostões, que a luta de nossa classe não era internalizada por todos os interessados, que num mundo de rótulos e superficialidades onde tudo se converte em cifras mirabolantes, é fácil se dizer “educador”... Muito difícil, no entanto, é esconder uma conduta mesquinha e sádicas alegrias cozidas no fracasso de tudo ter e nada ser. 
Terceira e sábia lição: aprendi que não é a condição do homem que lhe garante humildade, mas sim seu caráter, sua índole, sua verdade interior, não importa se rico, pobre, doutor ou agricultor... O necessário e o que permanecerá como marca indelével de sua pessoa será a obra por ele erguida, sobretudo quando seu agir não se paute na prática da justiça por meios perversos. ( Salústio )
Quarta e brilhante lição: aprendi que “a justiça pode caminhar sozinha, a injustiça necessita sempre de muletas, de argumentos” principalmente quando existem leis que as legitimam e são bem propícias para esconderem lobos travestidos de patéticos cordeiros...
Quinta e verdadeira lição: aprendi por fim, com sincera saudade, mas com o coração repleto de muita confiança que a “janela” hora fechada a mim e a todos os colegas terá o dom de nos impulsionar à perseverança, a encontrarmos outras portas, certamente mais amplas, oxalá mais humanas... Ele, esse novo caminho, já se descortina a nossa frente... Seguiremos, pois, com a serenidade de quem, como Sócrates, acredita ser mais feliz quem sofre uma injustiça do quem a comete...
Muito obrigada a todos e a todas.

FONTE: arquipelagopgg.blogspot.com
Doutoranda - Patrícia Gomes Germano.




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