Em ano de
eleições municipais é comum assistirmos o “vale tudo” dos candidatáveis para
lograr êxito naquilo que é o objetivo maior de nossa prática política em tempos
de regime democrático: ganhar as eleições. Eis que daí revela-se ser, o período
das eleições, um momento oportuno para percebermos o jogo de cena que envolve a
prática política. E, tudo começa meses antes, de modo "informal", durante o
período da chamada pré-campanha...
Esse é o momento da prestação de “contas”.
Momento que os candidatáveis começam a se mostrar presentes no meio da
sociedade. Nesse período começam as visitas, a promoção dos eventos, os almoços
entre amigos e correligionários, os jantares, as festas, a contabilidade das
adesões, etc. O objetivo aqui é sentir o povo, ouvir suas reclamações, sondar sobre
a popularidade do “nome”, especialmente daqueles que figuram distantes do “seu”
povo durante anos, aparecendo estrategicamente “agora”, no curso do ano
eleitoral.
Passado
esse momento que – seguindo de forma paralelo o nosso calendário eleitoral
oficial – começa entre fins de abril e vai até junho, quando, de posse do
resultado dessa sondagem informal, os candidatáveis acertam, nos bastidores, as
chamadas composições partidárias. A partir daí, os nomes oficiais são lançados,
afinal, a ideia é fixar possíveis chapas que são preparadas para oficialização
das candidaturas. É o período das convenções que ocorrerão, este ano, entre
fins de Julho e início de Agosto. Surgem os candidatos, de fato, de direito posto serem chancelados pela justiça eleitoral.
A campanha efetiva, este ano reduzida à 45
dias – diferente dos pleitos anteriores que ocorriam em 90 dias –, começa por
volta do dia 16 de agosto, quando dar-se início a propaganda eleitoral. Aqui, a prática política moderna fez do marketing político o imperativo do sucesso nas
eleições. Historicamente, uma tradição inventada!
Porém...
Até o dia
da eleição, esse é um momento impar para percebermos a relação, já sinalizada,
entre a político e o teatro. Um período em que claramente o poder apresenta-se
de forma “teatralizada” e que a "encenação" é uma chave para
entender o jogo teatral da prática política posto que parte da ideia que todo
sistema de poder é cercado de dispositivos destinados a produzir efeitos, entre
os quais, encontramos os que se comparam às ilusões criadas pelo teatro.
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Isso fica
visível em vários momentos da campanha eleitoral: nos comícios, nos discursos,
nos gestos, nas propagandas de rádio, nos “jingles” (músicas), nas cores partidárias, na
organização de passeatas, nas visitas às comunidades carentes, nos apertos de
mão, nas alianças oportunas... Ou seja, “tudo vale”, ou “vale tudo” para lograr
êxito no jogo da política, desde que, ao final se saia vencedor! E, pode-se
dizer, vencerá aquele que melhor encenar, como um bom “ator”; aquele que melhor
convencer seu público (eleitor) da qualificação para o papel que pretende assumir, qual seja,
governar...
Mais uma vez os exemplos se multiplicam e o material
histórico enriquece nossos argumentos. Neste caso, não é preciso ir muito
longe... Pensemos nossa realidade local onde a ação política, estrategicamente
pensada nos bastidores, obedece ao que poderíamos chamar de política de gestos
e falas... Eis uma chamada para um próximo texto...
* Crédito da Imagem: Capa do livro o "Teatro das Oligarquias" de Claúdia Viscardi. Trata-se de uma importante leitura sobre a complexidade e funcionalidade do Estado republicano brasileiro. No jogo político local em que, ainda hoje, impera muitos elementos que figuraram a prática da política oligárquica acabe a ilustração da capa para pensarmos a relação detectada no texto entre política e e teatro.
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