quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Estudos recentes apontam que as abelhas estão desaparecendo


Por Paulo Marks

As abelhas são responsáveis pela polinização de mais de 70 das 100 espécies de vegetais que fornecem 90% dos alimentos para um planeta habitado por 7 bilhões de pessoas, segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), de junho deste ano.


Estudos recentes apontam que as abelhas estão desaparecendo. Em um mundo sem abelhas, o homem não ficará apenas sem o mel e as flores. Ficará sem alimentos! Maracujá, berinjela, pimentão e outras espécies vegetais, por terem flores mais fechadas, precisam de polinizadores específicos. A lista de frutas, vegetais e sementes que dependem das abelhas é longa: uva, limão, maçã, melão, cenoura, amêndoas, castanha-do-pará, entre outras. 



Produtores de abelhas em todo o mundo, em especial nos Estados Unidos, relatam perdas entre 30 e 50% em suas populações de abelhas em colmeias. Em algumas regiões da China, elas já não existem mais. No Brasil, segundo o professor Osmar Malaspina, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), responsável pela coordenação de um grupo de pesquisa sobre o comportamento das abelhas, 20 mil colônias de abelhas foram perdidas no estado de São Paulo de 2008 a 2010. Em Santa Catarina, foram 100 mil apenas em 2011. Estimativas apontam para perdas anuais de 40% de colmeias no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais. 



Mas quais são as razões para o desaparecimento delas? A mais reconhecida é o amplo uso de inseticidas “neonicotinoides”, defensivos agrícolas utilizados em todo o mundo, que atingem o sistemas nervoso e digestório dos insetos, provocando desarranjos em seus sistemas de navegação. As abelhas morrem intoxicadas ou perdem o caminho de volta, deixando a colmeia vazia. Em casos mais graves, elas não conseguem se alimentar e morrem por inanição. 


Além de pesticidas, outros fatores, como eventos extremos causados por mudanças climáticas, o desmatamento seguido pela ocupação do solo por extensas monoculturas (milho e trigo) e técnicas para aumentar a produção de mel podem ser responsáveis pelo distúrbio do colapso de colônias (fenômeno conhecido como CCD em inglês).


Diante deste cenário dramático, o Parlamento Europeu baniu alguns desses inseticidas. Já o governo dos EUA nada fez. Chama atenção para o fato das produtoras dos neonicotinoides serem as mesmas empresas que dominam hoje o mercado de produção de sementes transgênicas. 



Porém um cálculo essencial precisa ser levado em conta: cientistas estimam que no ano de 2007, por exemplo, o valor dos serviços ecossistêmicos de polinização em todo o mundo era calculado em US$ 212 bilhões. Além disso, é clara que a relação entre a diminuição das abelhas e a redução da produção de alimentos impacta radicalmente na lei da oferta e da procura, logo no aumento do preço dos alimentos. 



Mas uma boa notícia foi dada pela Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês) no último dia 23 de setembro. Um grupo de 75 pesquisadores de diversos países-membros do IPBES fará uma avaliação global sobre polinizadores, polinização e produção de alimentos para identificar estudos necessários na área e, com isso, auxiliar os tomadores de decisão dos países a formular políticas públicas para a preservação da polinização e de outros serviços ecossistêmicos prestados por polinizadores. 

Para saber mais: 

Filme: “Mais que Mel”, de Markus Imhoof 
Livro: “Polinizadores no Brasil: contribuição e perspectivas para a biodiversidade, uso sustentável, conservação e serviços ambientais”, diversos autores, da Fapesp. 

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