domingo, 8 de maio de 2016

Os fins justificam os meios... Os bastidores da política do príncipe de Maquiavel aos nossos dias?


Estamos acostumados a ouvir as expressões maquiavélico e maquiavelismo para referir-se ao julgamento de uma conduta, uma ação como sendo desleal, hipócrita, fingidora, ou seja, uma ação como estrategicamente pensada a indicar má fé, geralmente associada à política e aos políticos, ou mesmo à certas atitudes das pessoas comuns. A expressão, contudo, advém do florentino Nicolau Maquiavel e à sua famosa obra “O príncipe”, escrita em 1513. Foi da tradução dessa obra, feita pelos teóricos do absolutismo, que extraiu-se a expressão: “os fins justificam os meios”. A obra é na verdade uma espécie de "manual político", um “guia” onde Maquiavel apontava caminhos para que os governantes (príncipes) conduzissem seus governos de modo a serem executados com êxito, garantindo a manutenção de um poder “absoluto”. A obra indicava que não importava o que o governante fizesse em seus domínios, tudo era válido - inclusive figurar acima da ética e da moral - para manter-se como autoridade, para perpetuar-se no poder, garantindo sua continuidade e permanência.
Pensada nestes termos, o poder maquiavélico é aquele que age secretamente nos bastidores, mantendo suas reais intenções desconhecidas para os cidadãos, usando de várias estratégias para fazer com o poder seja aceito sem maiores contestações. Disso resulta a imagem do maquiavelismo como estando envolto de uma áurea mística, capaz de seduzir e enganar, enquanto encobre a imoralidade e a perversidade dos atos políticos. Uma fórmula que perpassou o tempo, sendo atualizada e reatualizada diferentemente pelos agentes políticos em vários contextos históricos.
 Nicolau Maquiavel (1469-1527)
E o que revelava Maquiavel (imagem ao lado) sobre a prática política de seu tempo? A resposta indica a necessidade de se fazer uma análise mais atenta da estrutura e funcionamento do Estado Moderno em formação naquele contexto, o que não figura nosso objetivo nessas breves linhas. Contanto, uma pista nos salta aos olhos: ao revelar os bastidores da política sendo processada no interior da sociedade do Antigo Regime, o diplomata e conselheiro político italiano, traduziu que a prática política poderia apoiar-se na enganação e no engodo sugerindo-nos pensar que “o ator político”, leia-se, o governante, atua numa espécie de palco montado em que cujas cenas (re)apresentam o governo que “deveria ser”, ganhando contornos no imaginário dos governados, e oculta o governo que realmente é, aquele que fica por trás da cortina.  A Maquiavel, portanto, é atribuído o crédito “negativo” de ofertar ao “príncipe” uma receita onde não importava os meios, mecanismos, dispositivos, quando o mais importante era alcançar o objetivo final: governar. Contudo, caberia a pergunta: o que fez Maquiavel? Na verdade, Maquiavel apenas traduziu para uma obra o que figurava como prática política em seu tempo. Ou seja, escreveu “O Príncipe” a partir de uma experiência real extraída da prática política de seu entorno e que cujas raízes repousavam em períodos equidistantes do séc. XVI. Aliás, para muitos, as raízes históricas sob as quais se apoia o pensamento de Maquiavel é a razão do porque ainda hoje sua obra inspira muitos agentes políticos espalhados mundo afora.

Hoje, essa chamada indica uma relação antes não revelada, qual seja, a aproximação entre a política e o teatro. Nesta, o governante, afeito ao engodo, encena publicamente para ocultar “sua real” natureza. Transita, portanto, entre uma “imagem pública”, transvestida na forma de ações e atos de natureza pública, e uma personalidade interior que deve ser sempre velada, ocultada, escondida do olhar do público. Tal estratégia requer fazer com que jamais o poder seja revelado de forma desnudo, necessitando, para sua eficácia, a recorrência ao uso de "máscaras", tais como as que usam os atores em peças teatrais. Aqui uma pergunta ao leitor: poderíamos verificar exemplos “reais” dessa relação em nossos dias, na política local? O próximo texto pode-nos ser indiciário... Aguardemos!
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