terça-feira, 15 de outubro de 2013

Aos educadores...



 Um dos elos mais fortes na corrente estrutural de uma nação é a educação e ela surge como lugar-comum nos palanques políticos de nosso país. Rotineiramente, todos usam em seus discursos promessas de priorizarem-na em seus mandatos e essas propostas, por assim dizer, eleitoreiras, têm garantido a eleição de muitos e a expectativa de mudanças efetivas sempre proteladas para um futuro em devir.
Ela, a educação, a bem da verdade, é reconhecida, nos mais recônditos espaços do mundo, como um dos principais pilares na formação e transformação do indivíduo. Em nossa sociedade, ocidental e escolarizada, é dínamo em prol da justiça, da oportunidade de condições mínimas para que alguém possa habilitar-se numa cidadania democrática.
Uma boa educação garante maior e melhor participação, propicia liberdade, estimula a autenticidade de mentes independentes e conscientes dos seus direitos e deveres.
 O Brasil, talvez por ser um país novo, somente no final do século passado, entendeu já passar da hora de investir, de forma mais contundente, em educação pretendendo com isso melhorar seus índices de desenvolvimento e sua imagem de país comprometido com algum tipo de equidade, mesmo que em pequenas proporções. Em outras palavras, buscou adequar-se aos ditames neoliberais e aos fluxos internacionais reclamantes desse tipo de assistência e tutela.
Um dos primeiros passos foi aumentar o percentual do PIB brasileiro destinado à área e, a partir daí, no final da década de 90, o MEC criou o FUNDEF (Lei 9.424/96), com vistas a desenvolver políticas públicas de atenção especial ao ensino fundamental e valorização do magistério. Em 2007, o nível de atendimento coberto por esse fundo, de natureza contábil, passou a englobar a chamada Educação Básica e seus recursos foram centrados numa “repaginação” do ensino infantil, fundamental e médio. Eis então a origem do FUNDEB (Lei 11.494/07) mecanismo responsável pela dotação de recursos, repassados da União diretamente aos Estados e aos municípios, os chamados entes federados, com fins de que melhorias fossem visualizadas na relação de ensino-aprendizagem entre os anos de 2007 a 2020.
Para além dos atividades "mobralescas" e das muitas campanhas de erradicação do analfabetismo brasileiro, muitos programas são criados com objetivo de viabilizar melhores práticas nas escolas do nosso país. Contudo, a de ser ressaltado, em todos eles, a importância atribuída à figura do professor: esse “sujeito” que é sempre “objeto” privilegiado em campanhas políticas, mas que na prática, experimenta, na própria pele, o desmantelamento de sua profissão, por intermédio de ações que minam a docência e desestimulam o ingresso dos jovens nesta carreira de enorme relevância social.
Em que pesem a pujança da profissão, a carência de recursos infraestruturais, a convivência diuturna com salas de aula superlotadas e com jornadas duplicadas de trabalho,a exposição à violência e o pouco reconhecimento da atividade são fatores relevantes para o abandono da docência, a ponto de o próprio MEC lançar campanhas remunerativas para que estudantes secundaristas queiram se dedicar ao ensino, porque o país já se recente de profissionais nesta área e, tardiamente, procura saídas, mergulhado que esteve/está nos paliativos pré-eleitorais.
Falta por fim, analisar que, muito além da realidade de trabalho de outras carreiras, o ingresso no magistério, principalmente no âmbito estatal, não garante a este profissional o mínimo de “sossego” que muito servidores públicos de outras esferas usufruem. Note-se, por exemplo, a significativa concorrência e a alta valorização social e econômica que é dada aos engenheiros, aos médicos, aos membros do judiciário e militares, servidores públicos, muitas vezes, num nível de escolarização bem inferior aquele alcançado pelo professor, mas que são bem melhor remunerados.
Enquanto uma minoria de categorias trabalhistas do país canaliza suas ações para manutenção de alguns privilégios, a classe docente luta por condições humanas de trabalho, pela implementação e/ou correção de um piso salarial medíocre destoante das promessas eleitoreiras alardeantes de “mundos e fundos” para o professor. Como atrair atenção para a instigante missão de compartilhar saberes? Será que a lógica perversa não é justamente afastar os "rebeldes" e "indomáveis" das cátedras escolares?
Somente em 2009, como ilustração, estabeleceu-se, na forma da lei, a emergência de um patamar salarial para esta classe. Naquela época, através de um das mais curtas legislações do nosso referencial jurídico, oito artigos sintetizaram tanto a remuneração mínima permitida, como definiram a jornada de trabalho semanal deste profissional. A 11.738/08, como ficou conhecida, garantiu naquele ano que nenhum professor de nível médio poderia ter vencimentos inferiores a R$ 950,00, salvaguardando aos estados e municípios o direito de se enquadrarem a esta demanda até 2010, inclusive garantindo ajuda às unidades executoras em dificuldade manifesta na concretização do supracitado dispositivo legal.
Do mesmo modo, o Plano Nacional de Educação, projeto de lei ainda tramitando nas burocráticas "engrenagens do poder" e que é fruto do Termo de Compromisso  assinado pelos estados e municípios em "pactos enferrujados" de avanços com o MEC,  prevê na Meta 17 a valorização dos trabalhadores do magistério, a partir da equiparação salarial com outras áreas, e preconiza a evolução dos vencimentos como estratégia sine qua non  para que tal objetivo seja enfim alcançado.
No contexto de nossa cidade, em que professores foram, em outras épocas, manchetes dos principais telejornais do país por lecionarem em troca de não mais que R$1,00, a implementação, aos trancos e barrancos, de um Plano de Cargos Carreira e Remuneração do Magistério (Lei 781/2009), que diga-se de passagem já merece uma ampla revisão, à sua época, surgiu com um pequeno degrau de uma longa escada que precisamos urgentemente subir, sob pena de cairmos, a curto prazo, numa realidade desestimulante e jurássica, cujo reflexo surtirá na educação de cada filho e filha de Aroeiras. Não que os professores só trabalhem por dinheiro, porque esta equação além de idiota é facilmente desmontada, haja vista muitos dos "doutores" de hoje serem “criaturas” daqueles mesmos "criadores" remunerados por “um real” ... Todavia, bem sabemos que o valor do trabalho de uma classe tão fundamental não pode ser medido, e se esta não recebe ao menos a motivação e a segurança financeira devidas ao exercício do seu ofício, este será irremediavelmente prejudicado. Lembremos, pois, que a ignorância é sempre mais dispendiosa do que a educação. Esta conta, portanto, com ônus bem mais difícil de ser quitado...
Assim, neste 15 de outubro, dia em que oficialmente celebramos o dia do Mestre, ousamos pensar nos avanços dessa classe no contexto da rede municipal de Aroeiras, vislumbrando dessa forma, um retrospecto que nos mostra certos avanços em alguns pontos, ao mesmo tempo em que nos projeta para um futuro, quiçá, mais justo, mais digno, mais promissor... E se hoje não faz sentido uma grande comemoração, podemos sim observar que, fruto de muita luta e muita resistência, contabilizamos alguns êxitos, principalmente na quantidade de aroeirenses que conseguem alcançar o terceiro grau, no empenho diligente de nossos colegas, incessantes na tarefa de continuar a sua formação em cursos de pós-graduação após exaustivas jornadas de trabalho, nos resultados mais satisfatórios do IDEB e das avaliações nacionais, vergonhosos até 2009 e, a partir dali, mais adequados à competência e à responsabilidade da classe docente de nossa região, cujo destaque nas redondezas, e até em estados vizinhos, justificam a Aroeiras o título de “Terra dos educadores”. Ou seja, em muitos aspectos, grande parte dos educadores dessas paragens tem, de certa forma, cumprido os ditames de algumas das 20 metas estabelecidas no PNE e, portanto, merecem ser laureados com todo carinho e reconhecimento necessários, haja vista sua ratificada responsabilidade... 
Além dessas conquistas enobrecedoras a todos os nossos queridos professores – os de hoje, fruto das sementes dos de ontem – outras tantas podem ser aqui relembradas a título de exemplo:
Em 2009, a legislação previa o pagamento de dois terços dos R$ 950,00 para uma jornada de 40 horas, ou seja, prescrevia um salário de 633,00 reais ao docente de nível médio. Em Aroeiras, o professor desse nível recebia como vencimento R$ 800,00.
Já em 2010, com a obrigatoriedade do pagamento integral previsto na Lei, o próprio Governo Federal reajustou o valor de R$ 950,00 para R$ 1.024,67, contabilizando um acréscimo de 8%. Na tabela de reajuste anual do nosso município, o valor repassado ao docente de 40 h foi de R$ 1.176,00 o que demonstra um percentual de quase 15% em relação ao que determinava a lei.
Em 2011, o Gov. Federal somou mais 15,8% ao salário mínimo do profissional do magistério, passando o valor dessa remuneração para R$ 1.187. Em nossa cidade, o professor em jornada de 40 h passou a receber R$ 1.352,40, novamente mais de 14% acima do montante mínimo exigido.
Em 2012, o reajuste foi mais longe, o professor de nível médio, na forma da lei, não poderia receber menos que R$ 1.451, um acréscimo de 22,5%.  O município de Aroeiras, por sua vez, reajustou o valor inicial para R$ 1.622,88 ficando, pois, aproximadamente 14% acima do valor mínimo exigido.
Isso não quer dizer que os nossos gestores tenham sido “bonzinhos” ou que tenham sido "contagiados" pela síndrome da “generosidade descontroladamente adquirida". Penso que desconfiavam da diferença entre PISO e TETO e, talvez porque olhassem para o seu próprio salário e visualizassem a injustiça explícita de uma forma estonteante, optassem em ir um “pouquinho” além para não se mancharem com o estigma de desvalorizar tal categoria.
Da mesma forma, talvez porque muitos governantes levam ao pé da letra o codinome da Lei 11.738, conhecida popularmente como a "Lei do PISO", tenham assim, se limitado a agir como se  "PISASSEM" por sobre os professores, pautando suas ações numa violência às vezes explícita, às vezes silenciosa, que tanto oprime como desmerece labor tão importante.
Esses episódios se proliferam nas redes sociais e na imprensa de um modo geral, juntamente com a ojeriza da sociedade, agora perplexa, e nada passiva diante de tamanho ultraje. A que ponto estamos chegando?
Por fim, sou daquelas que acredito que nada disso poderá enfraquecer a nossa luta diária, seja nas salas de aula ou nos programas enviados à toque de caixa pelo MEC, lecionando dia e noite ou estudando noite e dia para melhor lecionar... Nada disso poderá silenciar o poder construído com o suor do nosso rosto e com o afinco de quem ama o que faz e, por isso o faz dando de si o seu melhor !!!
 Ousamos sonhar com a confiança no saber, com a desconfiança nas falsas promessas, com a alegria da sala de aula, espaço do mais autêntico intercâmbio, com os frutos das boas-novas vibrantes e salutares, com a liberdade de uma consciência sã, aberta e por isso esperta, VIGILANTE!!!
Parabéns professores! Bravos guerreiros! Caros colegas, grandes amigos!!!
Não desistam da educação e acreditem no seu poder de criar mentes sadias, mais benignas, menos estáticas, mais humanas, mais sujeitos, menos objetos!
Felicitações sinceras pelo nosso dia!!!
Professora Patrícia Germano
Dia 15.10.13
às 00h
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