sexta-feira, 7 de março de 2014

O “nosso” carnaval ficou na saudade...




Indiscutivelmente folião, os cidadãos de Aroeiras e de cidades vizinhas, habituados a viverem, com tranquilidade, os festejos momescos penso desfrutarem, estarrecidos, da sensação que tive ao me deparar com esses dias completamente grotescos e estranhamente denominados de “celebração carnavalesca” pelas ruas da minha cidade.
Não! Terminantemente, o carnaval de Aroeiras não é esse! O carnaval aroeirense não pode ser espaço para violência e muito menos um momento para que um palanque político, por assim dizer, PATÉTICO, possa ser armado pela quinquagésima vez e, diga-se de passagem, uma “politicalha” que tem conseguido macular a existência de nossos mais característicos blocos: desde o “Festejar com Cristo”, até os desfiles de bois, passando pelo Bloco da Saudade... Enfim, uma pobreza mental que espanta e não condiz com a nossa gente.
Por Deus! Ao longo de tantas perdas, não deixemos também que esse bem tão valioso e característico de nossa cidade seja dinamitado pela incompetência de quem se estabelece pela rancor, pela mediocridade e pelo espírito de vingança! Salvemos o carnaval que é só nosso e não pertence a nenhuma facção política nem de A e nem de B.
Carnaval, em sua gênese, é um momento de trégua, onde as inversões são bem-vindas, mas também, uma celebração cultural, um rito necessário para que a dinâmica de uma comunidade, com toda a sua originalidade, possa aflorar. Carnaval não é o lugar do mesmo, mas sim um tempo para o diverso e, em nossa cidade, essa criatividade se expressa com o nosso Zé Pereira, com os blocos de rua, os blocos estilizados que bebem na fonte do carnaval baiano, os bois que, tão logo desponta janeiro, enchem as nossas noites com seu chamado soturno coroado por tambores. O nosso carnaval é repleto de alegria, de papangus divertidos, de pessoas que se irmanam e gostam de estar juntos desfrutando do muito pouco que ainda lhe resta. O nosso carnaval é familiar, é bonito, é irreverente, é rico em criatividade, desde a sua gênese.
Sinto profundamente que esse carnaval, que não é mais nosso, tenha chegado à quarta-feira de cinzas com saldos tão negativos, dentre os quais posso citar a ausência lastimável do tradicionalíssimo Zé Pereira despontando no alto em graça e algazarra. Penso que ao longo de minha vida inteira, quase quarenta anos, nunca houve um só carnaval sem a presença mágica daquela cabeça agigantada, tradição milenar, que, irresponsavelmente, sumiu de nossa festividade nas noites do sábado. Saibam todos, que se houve e se há uma Maria Pereira, um Biu Pereira, ou um Chico Pereira é porque existe, bem antes, uma tradição de anos que, simplesmente, desapareceu sem nenhuma explicação, por assim dizer, INTELIGENTE e nem mesmo convincente!
Quanto ao Bloco da Saudade, um dos mais representativos de nossas festas, entre mortos e feridos, vai capengando, sem incentivos, sem o devido respeito, enquanto os bois de carnaval não desfrutam da atenção merecida, mesmo sendo eles o grande diferencial de nossa festa, algo característico do nosso patrimônio cultural. Mas será que nesses “tempos” alguém ainda lembra da cultura ou mesmo entende o seu real significado?
Capítulo à parte, a violência nessa festa chegou ao extremo do inaceitável. Motos em alta velocidade sendo guiadas por crianças, comércio irrestrito de bebidas alcoólicas e outras drogas ilícitas em praça pública, policiamento apático, justiça além de cega, muda e ausente... Autoridades incompetentes que tentam vestir nossa Aroeiras numa “fantasia” cômica de um mudança que ninguém vê, pois vivemos ao Deus dará, sem água, sem justiça, sem confiança, sem perspectiva e agora, também, sem tranquilidade... A completa inversão: o povo trancafiado em suas casas, a loucura explícita em nossas ruas, uma rotina que se confirma. Nada de saudável para nossa juventude, a completa desordem que se transforma em perigo.
Conversando com amigos, com velhos amigos, comungamos da mesma sensação de perplexidade perante a nossa terra. As famílias amedrontadas não mais se arriscam nesse carnaval de estranheza ... As orquestras não enchem de sons nossas ladeiras e nem as janelas se abrem para verem os blocos coloridos. Não vale a pena!!!
Os papangus? Esses são bandidos travestidos de foices e martelos que se aproveitam da impunidade reinante para agredir adolescentes... O medo se espalha, o silêncio impera, as portas se fecham, Aroeiras agoniza...
Entro no bloco “Acorda, Aroeiras!” Que inconscientemente simboliza a vontade de uma mudança genuína e necessária em nossa cidade. Uma mudança de postura, num grito, que ecoa do âmago dessa gente ordeira, pacata, agora estarrecida com tamanho descaso!

Patrícia Germano.
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