segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Uma nova educação para um novo planeta


De que serve a educação quando ela nos prepara para um mundo que não existe mais?

Que parte dos conteúdos pedagógicos oferecidos hoje nas escolas e universidades brasileiras consegue responder ao imenso desafio de formar cidadãos preparados para enfrentar a maior crise ambiental da história da humanidade?

Não é exagero.

A triste realidade é que o analfabetismo ambiental continua produzindo gigantescos estragos na formação de nossos jovens que, não raro, já adultos, vão buscar no mercado cursos complementares que tentam suprir essas lacunas nos currículos. Quem faz esses cursos por aí (alguns deles reconhecidamente sérios como os da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e do Rio, e da Fundação Dom Cabral) costuma reagir com perplexidade ao descobrir como certas informações consideradas básicas jamais haviam sido compartilhadas em sala de aula. E isso tem um custo pessoal e profissional enorme.

Todas as profissões, sem exceção, demandam ajustes nas respectivas formações para que saibamos lidar com as “novidades” que surgem nos respectivos mercados. Isso já é sabido e faz parte de um mundo em constante processo de mudança. Mas, em se tratando das questões ambientais, as “novidades” – principalmente aqueles que demandam uma ampla revisão de conceitos, métodos e práticas configurando, na verdade, uma nova cultura – vêm acompanhadas de uma forte reação. Não se trata apenas de mudanças pontuais ou ajustes tecnológicos em um determinado ponto da cadeia. Estamos falando de mudanças estruturais que configuram um novo olhar sobre a realidade que nos cerca.

Em resumo: é situar as limitações do planeta no seu radar. É reconhecer que o atual modelo de desenvolvimento (baseado no hiperconsumo e na carbonização acelerada da atmosfera) nos precipita na direção do abismo. É fazer tudo (ou quase tudo) diferente do que vinha fazendo. É qualificar o emprego do tempo e da energia em favor da mais ampla e urgente reengenharia de processos (múltiplos e variados) que o mundo jamais viu.

É uma tarefa hercúlea, porque, em alguma medida, depende do engajamento de todos, mas é inevitável fazê-lo.

Na verdade, muito timidamente, já está sendo feita. Novas profissões – algumas delas nem nome certo têm ainda – surgem a reboque dessa demanda do mercado para reinventar rotinas onde o “business as usual” é visto como ameaça real e mensurável à sobrevivência do negócio. Inovação é a regra. Sustentabilidade é o objetivo.

Com o encerramento do ano letivo, está chegando a hora de programar o que será mantido ou alterado nas grades curriculares das instituições de ensino em 2015, na margem de manobra possível levando em conta os limites impostos pelo Ministério da Educação. Abre-se no calendário escolar uma preciosa janela de oportunidade para aproximar o mundo real das salas de aula.

Hoje falarei das escolas.

A educação para o consumo consciente é o conteúdo mais urgente – e invisível – nas instituições de ensino públicas e privadas do Brasil. Mesmo quando a Organização das Nações Unidas (ONU), o Banco Mundial e outros organismos multilaterais denunciam o consumismo (o hiperconsumo que normatiza o excesso, o desperdício e até a ostentação) como um dos grandes vilões ambientais da atualidade – pela retirada sistemática de recursos naturais não renováveis fundamentais à vida, agravamento do efeito estufa, geração monumental de lixo etc –, há meninos e meninas que passam pela escola sem associar o consumo perdulário à degradação do planeta onde vive. Serão adultos possivelmente infelizes, por acharem que só é possível alcançar a realização pessoal acumulando bens e posses, e certamente engrossarão as fileiras dos inadimplentes (“negativados”) se não aprenderem a tempo a evitar as tentações do “crédito fácil” para realizar sonhos de consumo descartáveis e perecíveis.


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