segunda-feira, 9 de maio de 2016

Política e teatro: rumo a uma teatrocracia?

O teatro do Poder.

Não é espantosa, para nossos agentes políticos, a constatação de que há uma intima relação entre política e teatro. Todos sabem, ao seu modo, a importância que recai sobre uma boa “atuação” política frente ao público. A consciência disso deixa indícios, bastando passear pelas redes sociais – Facebook e Instagram –, por exemplo, para percebermos que muitos estão atentos à eficácia da fabricação da imagem pública, fazendo com que recorram aos cursos de marketing político espalhados Brasil afora – muitos deles participantes credenciados – que, dentre outras coisas, ensinam sobre a “personificação do poder”, mediante uma eficiente encenação articulada à montagem de cenários de atuação política.
Para nós, do mesmo modo, nada de espantoso: o que chamam de marketing político é hoje uma ferramenta eficaz para promoção da imagem pública dos candidatos nos regimes democráticos. Dentro das regras do marketing político, por exemplo, destaca-se que um de seus objetivos é adequar o candidato/candidata como sendo representativo ao seu eleitorado potencial. E, adequá-lo ao seu eleitorado potencial significa, especificamente, saber o que pensam e o que querem os eleitores em determinado momento, para que a imagem do candidato seja personificada, montada de acordo com os anseios da sociedade, ou grupo.
Por outro lado, quem recorre a estes cursos sabe que o “marketing político” exige o uso de estratégias cujos efeitos são percebidos à longo prazo quando se trata de construir a imagem política que melhor se encaixe às expectativas de uma sociedade. Daí, resulta a configuração do chamado “marketing eleitoral” que visa, a curto prazo, criar uma imagem em potencial que se adeque às expectativas de um grupo de eleitores. No marketing eleitoral, portanto, recorrem a um cem número de estratégias para que o candidato possa conquistar a aprovação e simpatia da sociedade, construindo, para tanto, uma imagem pública que seja sólida e consiga transmitir confiabilidade e segurança à população elevando o seu conceito em nível de opinião pública.
A chamada é indiciária... Leia-se um exemplo à nível local...
  Nesse momento em que a aliança de certas forças políticas locais sugere-nos recorrer ao conteúdo da história, leia-se, histórica local, para chancelarmos a eficácia da montagem de uma chapa e de um plano de governo cuja imagem já prefigura como uma “novidade” à sociedade aroeirense, tal como é nova, “jovem”, a própria chapa dos pré-candidatos em formação, devemos imaginar que repousa ai uma estratégia: a formatação de um governo, estando à frente “jovens” pré-candidatos cuja aliança é “alicerçada” no alinhamento de ideias políticas que visam o bem estar da sociedade. Portanto, a montagem da “imagem” de um governo e de seus governantes como estando em sintonia com a necessária “renovação” da política local já está em pleno curso. E, conscientemente ou não, atende as regras essenciais do marketing eleitoral e que cuja primeira fase consiste em sondar os eleitores, neste caso, com a apresentação de uma pré-candidatura.
E, vejam os leitores... Os indícios desse “poder teatralizado” encontra “ecos” em discursos que antagonizam cenários e práticas políticas. Assim, estrategicamente, de um lado denuncia-se a Aroeiras que “vive dias difíceis”, abandonada, em face da Aroeiras que se vislumbra no futuro: governada pelos “jovens” e guiada pela solidez de um plano de governo “criado” pelos aroeirenses. Um engodo?! A grande questão, me parece ser, é que a costura nos bastidores dessa aliança já revela algo como que denunciando o jogo clássico da velha política. Tanto é assim que as redes sociais nos dão conta de que tudo fora firmado numa “reunião”, longe de Aroeiras, fechada entre os familiares. Talvez não pudesse ser diferente! Essa prática, sabemos, repousa ao mesmo tempo em raízes históricas cujos exemplos remetem para um tipo de política que figura como um verdadeiro “negócio de família”.
Por hora, cabe refletir que para esses agentes políticos não resta outra alternativa senão fazer emplacar a aliança no meio do público e, para tal, usam dos instrumentos a seu dispor para fazer valer tal imagem sem causar estranhamentos ou contestações. Aos (e)leitores resta aguardar as fases seguintes: as visitas, os almoços, os discursos, a oficialidade da chapa, a convenção, a campanha, e o próprio dia da eleição, seguidas de toda dimensão teatral, da encenação e da montagem de cenários, diante os qual esses momentos são contornados. Fases que, aliás, enquanto produzia este texto, já estão em curso... Eis que tivemos um domingo com cheiro de pré-campanha...
Porém, antes que falemos numa “Esperança Renovada”, ou que“(Re)unimos para mudar” – os trocadilhos são válidos – talvez deva nos valer um alerta feito por Machado de Assis no romance Esaú e Jacó, lançado em um momento específico de mudanças políticas no Brasil. Para ele, na política, muitas vezes, se “muda de roupa sem trocar de pele”. Para nós, fica a leitura: muitas vezes na face do novo há resquícios do velho, cabendo-nos diferenciar um e outro, promovendo, o que por hora chamaremos de “contrateatro”.


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